quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dream Of Mirrors by Steve Harris

Já fiz um pequeno post, a sugestão de um colega, que achou que talvez um blog atraísse um público mais apropriado para as minhas divagações do que os fóruns onde normalmente as coloco e deixo aqui um segundo, antes de abrir este blog ao pequeníssimo público que talvez se interesse por ele.

É apenas um pequeno comentário e uma reflexão acerca do poema que inspirou o nome do Blog, a letra da música "Dream Of Mirrors" dos Iron Maiden, um poema absolutamente genial.

Muita gente normalmente despreza a "linguagem" do rock 'n roll por a considerar pouco erudita e os seus autores pouco cultos.

É uma estupidez.

Alguns dos poemas do rock (e porque não de outros géneros, eu falo do rock porque é a experiência que tenho) são obras de uma subtileza e de uma arte como é invulgar encontrar-se em obras literárias.

Aqui o poema em questão, façam o favor de passar por ele os olhos antes de continuar (recomendo a audição da música também, mas devido à urticária que o heavy metal provoca em alguns, prefiro transcrever a letra).

DREAM OF MIRRORS

Steve Harris

Have you ever felt the future is the past, but you dont know how...?
A reflected dream of a captured time, is it really now, is it really happening?

Don't know why I feel this way, have I dreamt this time, this place?
Something vivid comes again into my mind
And I think I've seen your face, seen this room, been in this place
Something vivid comes again into my mind

All my hopes and expectations, looking for an explanation
Have I found my destination? I just can't take no more

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

Think I've heard your voice before, think I've said these words before
Something makes me feel I just might lose my mind
Am I still inside my dream? is this a new reality
Something makes me feel that I have lost my mind

All my hopes and expectations, looking for an explanation
Coming to the realization that I can't see for sure


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, please save me from myself

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

I get up put on the light, dreading the oncoming night
Scared to fall asleep and dream the dream again
Nothing that I contemplate, nothing that I can compare
To letting loose the demons deep inside my head

Dread to think what might be stirring, that my dream is reoccurring
Got to keep away from drifting, saving me from myself


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

Lost in a dream of mirrors, lost in a paradox
Lost and time is spinning, lost a nightmare I retrace
Lost a hell that I revisit, lost another time and place
Lost a parallel existence, lost a nightmare I retrace


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

-//-

Tanto quanto sei, este poema é baseado num sonho que o baixista (e principal compositor) dos Iron Maiden teve.

Através da exploração de um sonho, o sujeito poético põe a si próprio toda uma série de questões que são interessantíssimas e coloca-se numa série de situações em que, creio, todos nós estivemos numa altura ou outra.

Perdidos num paradoxo, num mundo de espelhos, em que todas as pessoas à nossa volta são repetidas e temos a sensação que estamos apenas a repetir, passo a passo, todos os dias, a mesma experiência inútil e a mesma vida sem qualquer tipo de sentido, objectivo, ou sensação de realização.

Ele vê no sonho todas as suas expectativas, todas as suas esperanças esfumar-se e acaba por ficar com medo de voltar a adormecer.

Mas uma coisa é certa, e é disso que o sujeito se apercebe.

"I only dream 'cause I'm alive".

Os sonhos são uma forma do nosso subconsciente nos mostrar aquilo que nós não queremos ver, ou fazemos por não ver enquanto estamos acordados e a tentar viver a nossa vidinha.

Este sonho foi marcante para mim porque, segundo entendo, a mensagem que é passada é que temos que encarar o que nos incomoda e o que nos assusta, temos que olhar para a vida olhos nos olhos e, se não estamos bem onde estamos e no "sítio" em que estamos, temos que nos pôr a pé e ir embora.

Doa a quem doer.

"The dream is true"

8 comentários:

  1. 1º Criar o blog foi boa jogada, João.

    2º Tenho pouco tempo, mas nao pude deixar de comentar o teu seguinte comentário:

    "Perdidos num paradoxo, num mundo de espelhos, em que todas as pessoas à nossa volta são repetidas e temos a sensação que estamos apenas a repetir, passo a passo, todos os dias, a mesma experiência inútil e a mesma vida sem qualquer tipo de sentido, objectivo, ou sensação de realização."

    Nos meus últimos tempos de reflexão cheguei a uma conclusão que me iluminou e perturbou ao mesmo tempo. Antes de falar do que me refiro, tenho de mencionar como cheguei lá. Começou com a pergunta:

    "Mas afinal como é que eu/nós sou/somos o que sou/somos? O que realmente define a minha personalidade, e como é ela única entre todos nós?"

    A resposta é evidente: uma parte foi me dada "de borla" geneticamente pelos meus progenitores e outra pelo tempo que ainda aqui estou, a respirar. Até aqui nada de estranho, mas, se assumir esta afirmação como verdadeira, facilmente se conclui que ninguém tem culpa ou mérito de nada. Todos as nossas capacidades ou defeitos são fruto de experiências vividas - pode haver também uma componente genética mas, mesmo que ela exista, foi-me oferecida, ou seja, não tenho mérito nem culpa nela. Até hoje, sempre que tenho tentado mostrar o meu ponto de vista a alguém ninguém concordou. Entristece-me, pois a mim é óbvio e ainda não encontrei um argumento que me contrarie. A ideia perturba-me pois, se por um lado, é mais fácil aceitar o que cada um de nós é, por outro lado descubro um GRANDE crime da sociedade actual: julgamento e castigo - prisão - de quem errou. Como podemos nós culpar um individuo por matar, violar, roubar quando a culpa é mais do resto do mundo - o mundo em que ele nasceu e percepcionou - do que de ele próprio?

    3º Vê o meu blog (http://blackandwhiteman.wordpress.com)
    Já há algum tempo que lá não escrevo, mas tenciono voltar a vomitar o que me vai no coração, sempre sem pensar o que vão achar o que escrevi, mas como um registo para mais tarde ler e ver o que foi alterado na minha cabeça. Logo, não o leias, se o leres, como o espelho do meu estado de espírito actual, porque não o é.

    Beijo

    ResponderEliminar
  2. Gostei do que referiste e também gostei da tua interpretação. De facto, a letra desta música remete-nos para algo situado entre a realidade e o sonho. Faz-nos viver um pouco no onirismo. Faz-nos sentir como se estivéssemos suspensos no ar (ou algo assim semelhante) com vislumbres de situações, experiências, sentimentos...

    E sim, irei insistir para dares uma hipótese ao amigo Fiódor porque acho que irias gostar :P

    E gostei também do comentário do/a teu/tua colega "não". Gostei da perspectiva sociológica que tem da realidade (ou que demonstra ter). Nós somos o que somos, mas isso também deve em muito a constrangimentos sociais. No que toca ao crime, normalmente são 3 as perspectivas para entender esse fenómeno (e muitos outros). Quer seja a biológica/antropológica, como também a psicológica ou mesmo a sociológica. Pela minha experiência/formação creio que o que realmente importa para compreender o crime é a vertente sociológica. E concordo que, de certa forma, apesar de todos nós podermos tomar as nossas decisões, há sempre constrangimentos que nos levam a tomar certos caminhos e a delinquência, por exemplo, tende a ser um deles. Daí a questão de culpar o criminoso pelo seu acto ou então toda a sociedade que o levou a comete-lo.

    Creio que isto também se relaciona um pouco com o poema. Pois, para mim, este também nos remete para o trajecto de vida e para a avaliação desse mesmo trajecto. É o encarar da vida e o querer tomar as rédeas e fazer as escolhas que parecem trazer mais satisfação e bem-estar. Mas lá está, há a subjectividade e há o dilema do consciente e do subconsciente. Há o desejo de ter controlo e ser independente, mas também há o constrangimento e a dependência... E estes facilmente nos tornam alienados e transformam, não o sonho, mas a vida, num quarto apenas e repleto de espelhos.

    Acho que é por aí...

    ResponderEliminar
  3. Amigo não, presumo que sejas o Geko pela mini-espreitadela que dei ao teu blog, obrigado pelo comentário, que este blog se tornasse num espaço com debate interessante era algo que me agradaria sobremaneira, mas provavelmente nunca lerás este comentário portanto é indiferente.

    Quanto à tua ideia de a culpa do que um indivíduo faz ser da sociedade em que se insere, tenho que discordar!

    Se bem que é verdade, a sociedade molda-nos, isso só é verdade até um certo ponto.

    Cada pessoa escolhe as influências que decide aceitar e abraçar. Cada pessoa escolhe os livros que lê, os filmes que vê e a música que ouve. Cada pessoa tem igual acesso às campanhas e políticas do PSD e do PS.

    E depois depende de ti, da forma como tu próprio abraças todo esse manancial de influências que faz com que sejas quem és.

    O meu material genético e do meu irmão é, arrisco dizer, 99% igual, a nossa educação foi rigorosamente igual, fomos para as mesmas escolas, tivemos (a um nível que chega a ser cómico), os mesmos professores e os meus pais deram-nos, a nível cultural, o mesmo acesso à sua música e aos seus livros. Como se explica então que sejamos tão diferentes? Cada pessoa é diferente e toma as suas escolhas.

    "What you do does not define what you are. What you are defines what you do."

    Max @ Across The Universe

    Utopia, quanto ao último parágrafo, sim, é por aí :p

    ResponderEliminar
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  5. "Cada pessoa escolhe as influências que decide aceitar e abraçar. Cada pessoa escolhe os livros que lê, os filmes que vê e a música que ouve. Cada pessoa tem igual acesso às campanhas e políticas do PSD e do PS."

    Certo, mas eu pergunto como é que adquirimos esse mecanismo que nos permite fazer escolhas. Como já referi, se nos é dado à nascença, não temos culpa ou mérito, se não, é o resultado das experiências que tivemos, logo também não existe mérito ou culpa.

    "O meu material genético e do meu irmão é, arrisco dizer, 99% igual, a nossa educação foi rigorosamente igual, fomos para as mesmas escolas, tivemos (a um nível que chega a ser cómico), os mesmos professores e os meus pais deram-nos, a nível cultural, o mesmo acesso à sua música e aos seus livros. Como se explica então que sejamos tão diferentes? Cada pessoa é diferente e toma as suas escolhas."

    O teu material genético é 99.9% igual ao teu irmão, assim como igual ao meu. Além disso, só pelo facto de o teu irmão te ver a ti e tu a ele, já torna as experiencias de cada um diferente. O facto de um mijar antes e outro depois a mesma coisa. Isto para dizer que é impossível proporcionar exactamente as mesmas experiencias a duas pessoas diferentes.

    ResponderEliminar
  6. PS: Devias abrir os comentários a toda a gente

    ResponderEliminar
  7. http://blackandwhiteman.wordpress.com/2009/11/20/there-is-no-such-thing-as-hell-and-heaven/

    ResponderEliminar