sábado, 24 de outubro de 2009

If On A Winter's Night... - Sting




Já há algum tempo que não deixo aqui umas linhas talvez por andar ocupado, talvez por fanta de paciência, ou então possivelmente por falta de tema que valesse umas linhas aqui, mas não podia deixar de fazer uma referência a esta nova obra de arte que tem rodado cá em casa.

Sting é, nesta fase da sua carreira, um músico completo. Tem tanto dinheiro que se pode dar ao luxo de fazer a música que mais lhe apetecer e isso é algo que todos os músicos com o seu talento deviam ter, é fantástica a forma camaleónica como consegue desdobrar-se e fazer algo de completamente diferente da proposta anterior.

Eu já ouvi Sting a fazer rock, jazz, pop, soul, música medieval, música com influências árabes, música com influências electrónicas, música de que gostei, música que nem consegui ouvir até ao fim e música que simplesmente me encheu as medidas.

É o caso deste álbum. Inspirado no inverno, cheio de passagens com sonoridades medievais que ainda vêm com certeza das influências que deram origem ao álbum anterior, as paisagens musicais deste novo trabalho deixam-nos completamente perdidos no meio da mesma floresta que se vê na capa do CD, não durante uma tempestade, mas sim durante uma bela manhã de Dezembro.

A voz de Sting está cada vez mais quente e confortável, cada vez mais expressiva e ele canta com cada vez mais naturalidade, deixando fluir as palavras. Quase que o conseguimos imaginar de cerveja na mão, numa qualquer taverna medieval a maravilhar as pessoas que se sentam à lareira para o ouvir cantar enquanto se aquecem do frio dos caminhos.

Genial, só falta voltar a Portugal para dar um concerto em que misture todas as facetas da sua música.

Fico à espera!

EDIT: Acabo de descobrir saltitando pela net que exceptuando as faixas "Hounds Of Winter" e "Lullaby For An Anxious Child", toda a música deste álbum são versões de músicas tradicionais das ilhas britânicas! Mantenho tudo o que disse no meu comentário, linha por linha.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol - Haruki Murakami

Como demorei três posts a fazer uma referência ao meu autor de eleição? Nem eu sei. É um mistério. É um pouco como porque escolhi escrever este blog em português e não em inglês. Não existe um motivo em particular, simplesmente nesse dia acordei assim disposto.

Na Universidade do Minho existe, para quem não sabe, um clube de literatura japonesa chamado Bungaku (que quer dizer literatura, claro), vou enviar este comentário para lá, pode ser que me aceitem! Cruzem os dedos.

Aproveito por último, antes de começar, para fazer referência a um site extraordinário, o The Book Depository, que está em www.bookdepository.co.uk, que, maravilhosamente, envia para todo o mundo os seus produtos sem quaisquer custos de envio. Maravilhoso não?

"A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol" é um romance invulgar para Haruki Murakami. É mais pequeno do que "Kafka à Beira-mar" ou do que "A Crónica do Pássaro de Corda" e é, devido a uma notável ausência de pormenores surrealistas, um livro muito acessível, comparado com os exemplos que dei. Mais fácil de digerir, mais fácil de interiorizar, talvez seja até mais fácil para leitor relacionar-se com as personagens.

Passado em Tóquio, na sua maioria, é um livro bonito. A maioria da obra de Murakami não é bonita. Nem agradável. É dura, é estranha, é bizarra, é surreal mas não é bonita.

Eu gostei particularmente deste livro por ser extremamente bonito. Mas por detrás da beleza e da acessibilidade deste livro esconde-se um manancial de verdades escondidas e de pequenas pérolas de sabedoria. A única diferença é que, ao passo que noutros livros de Murakami eles às vezes passam ao lado do leitor, devido à aparente loucura do que está a acontecer a cada virar de página, aqui elas estão à vista de todos, escondidos nas reacções das personagens e na fracturada psique de Hajime, uma personagem quebrada, dividida entre dois mundos, ou mais, tal como todos nós.

É fácil identificar-nos com uma personagem como o Hajime, que tem uma vida que aparentemente tem tudo, mas à qual falta algo. É mesmo muito fácil perdermo-nos no mundo dele.

Pousei as mãos no volante e fechei os olhos. Não tinha a sensação de estar dentro do meu próprio corpo; sentia o corpo como um recipiente transitório, temporariamente emprestado. Que seria de mim no dia de amanhã? Queria comprar um cavalo à minha filha o mais cedo possível, antes que muitas coisas desaparecessem, antes que o mundo se estilhaçasse.

É mesmo muito fácil entrarmos no mundo de alguém que aparentemente está bem, aparentemente tem tudo, e que se esforça muito para parecer bem, e para não dar a entender às pessoas que o rodeiam o que se passa na realidade, quando na realidade está assim. Acho que todos tivemos momentos assim na nossa vida. Mas acho que poucos os poderíamos pôr em palavras de forma que fizesse tanto sentido para nós como Murakami os põe aqui, sem nunca nos conhecer ou ter ouvido a nossa história.

Uma história lindíssima do melhor romancista da actualidade. Recomendo vivamente.

Há muitas maneiras de viver. Há muitas maneiras de morrer. Isso, porém, não tem qualquer importância. No fim, fica apenas o deserto. Só o deserto permanece verdadeiramente vivo.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dream Of Mirrors by Steve Harris

Já fiz um pequeno post, a sugestão de um colega, que achou que talvez um blog atraísse um público mais apropriado para as minhas divagações do que os fóruns onde normalmente as coloco e deixo aqui um segundo, antes de abrir este blog ao pequeníssimo público que talvez se interesse por ele.

É apenas um pequeno comentário e uma reflexão acerca do poema que inspirou o nome do Blog, a letra da música "Dream Of Mirrors" dos Iron Maiden, um poema absolutamente genial.

Muita gente normalmente despreza a "linguagem" do rock 'n roll por a considerar pouco erudita e os seus autores pouco cultos.

É uma estupidez.

Alguns dos poemas do rock (e porque não de outros géneros, eu falo do rock porque é a experiência que tenho) são obras de uma subtileza e de uma arte como é invulgar encontrar-se em obras literárias.

Aqui o poema em questão, façam o favor de passar por ele os olhos antes de continuar (recomendo a audição da música também, mas devido à urticária que o heavy metal provoca em alguns, prefiro transcrever a letra).

DREAM OF MIRRORS

Steve Harris

Have you ever felt the future is the past, but you dont know how...?
A reflected dream of a captured time, is it really now, is it really happening?

Don't know why I feel this way, have I dreamt this time, this place?
Something vivid comes again into my mind
And I think I've seen your face, seen this room, been in this place
Something vivid comes again into my mind

All my hopes and expectations, looking for an explanation
Have I found my destination? I just can't take no more

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

Think I've heard your voice before, think I've said these words before
Something makes me feel I just might lose my mind
Am I still inside my dream? is this a new reality
Something makes me feel that I have lost my mind

All my hopes and expectations, looking for an explanation
Coming to the realization that I can't see for sure


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, please save me from myself

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

I get up put on the light, dreading the oncoming night
Scared to fall asleep and dream the dream again
Nothing that I contemplate, nothing that I can compare
To letting loose the demons deep inside my head

Dread to think what might be stirring, that my dream is reoccurring
Got to keep away from drifting, saving me from myself


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

Lost in a dream of mirrors, lost in a paradox
Lost and time is spinning, lost a nightmare I retrace
Lost a hell that I revisit, lost another time and place
Lost a parallel existence, lost a nightmare I retrace


I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself
I only dream in black and white, I only dream cause Im alive
I only dream in black and white, to save me from myself

The dream is true, the dream is true
The dream is true, the dream is true

-//-

Tanto quanto sei, este poema é baseado num sonho que o baixista (e principal compositor) dos Iron Maiden teve.

Através da exploração de um sonho, o sujeito poético põe a si próprio toda uma série de questões que são interessantíssimas e coloca-se numa série de situações em que, creio, todos nós estivemos numa altura ou outra.

Perdidos num paradoxo, num mundo de espelhos, em que todas as pessoas à nossa volta são repetidas e temos a sensação que estamos apenas a repetir, passo a passo, todos os dias, a mesma experiência inútil e a mesma vida sem qualquer tipo de sentido, objectivo, ou sensação de realização.

Ele vê no sonho todas as suas expectativas, todas as suas esperanças esfumar-se e acaba por ficar com medo de voltar a adormecer.

Mas uma coisa é certa, e é disso que o sujeito se apercebe.

"I only dream 'cause I'm alive".

Os sonhos são uma forma do nosso subconsciente nos mostrar aquilo que nós não queremos ver, ou fazemos por não ver enquanto estamos acordados e a tentar viver a nossa vidinha.

Este sonho foi marcante para mim porque, segundo entendo, a mensagem que é passada é que temos que encarar o que nos incomoda e o que nos assusta, temos que olhar para a vida olhos nos olhos e, se não estamos bem onde estamos e no "sítio" em que estamos, temos que nos pôr a pé e ir embora.

Doa a quem doer.

"The dream is true"

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eleições Legislativas

Num país em que apenas dois partidos têm condições para formar governo, a enorme falta de carisma, presença e capacidade para falar em público e convencer os eleitores deixou desde logo claro que, à falta de uma alternativa credível, o PS ia vencer as eleições. Aliás, nenhum primeiro ministro eleito alguma vez perdeu umas eleições em Portugal, sempre que o Governo mudou de mãos foi porque o primeiro em funções abandonou o cargo por um motivo ou por outro (Santana Lopes perdeu mas não foi eleito). Isto é a nossa realidade e a verdade é que, o que o PS jogava nestas eleições nem sequer era o governo, mas sim a sua preciosa maioria absoluta que lhe permitiu varrer este país com o seu autoritarismo, despotismo, autoritarismo e outras coisas terminadas em "ismo". Pois bem, o PS perdeu as eleições. O PS perdeu as eleições com ESTRONDO. O PS tinha toda a liberdade para governar como queria. O PS aceitou essa liberdade e governou como QUIS. Ignorou a oposição, ignorou os portugueses, ignorou os sindicatos e ignorou toda e qualquer crítica com todo o chauvinismo típico do seu arrogante líder. Resultado? Desde as últimas legislativas, o PS perdeu mais de meio milhão de votos e 25 deputados. Sabem quantos são 25 deputados? Se lhes somassem mais 6 eram os deputados de toda a restante esquerda junta. Isto foi o que o PS perdeu nestas eleições.

PS - Passou de 121 para 96 deputados, perdendo a maioria absoluta que detinha. Teve, desde as últimas legislativas a oportunidade única para governar como bem entendesse , sem entraves possíveis por qualquer pessoa que não o pactuante Presidente da República. Resultado? Perdeu 27 deputados e colocou-se em tal posição que nem sequer uma eventual coligação à esquerda permitirá governar com maioria. Terá agora que abandonar a prepotência e negociar com os outros partidos. E esta, o PS obrigado a agir em democracia... Contado ninguém acredita. Será que ainda alguém acredita que ganharam as eleições?

PSD - Uma desgraça que era mais que previsível. O projecto e a competência são o mais importante? São. Ninguém duvida. Votei PSD porque o projecto do PSD era o melhor e porque a competência da Sra. Manuela não pode ser posta em causa. Mas não nos iludamos, para ganhar eleições é preciso convencer as pessoas. Porque é que o Obama ganhou as primárias nos EUA a Clinton? Porque o seu projecto era melhor? Não, porque era mais carismático, melhor falante e projectava uma aura de sinceridade e honestidade que ainda hoje se mantém. Manuela Ferreira Leite é um desastre nos debates, é um desastre nos discursos, é um desastre em tudo o que envolva estar em público. Com alguém assim é impossível ganhar e sinceramente temia um resultado pior.

CDS - O grande vencedor destas eleições. Paulo Portas é tudo o que Manuela Ferreira Leite não é, é extraordinariamente carismático, discursa muito bem e varreu o chão com todos os adversários nos debates televisivos. Novamente as sondagens subestimaram o CDS e quer me parecer que se não lhe faltassem mais figuras no meio pequenino em que se movimenta, o PP poderia ser algo mais do que um partido "alavanca". A verdade incontestável é uma, desde as últimas legislativas o PP ganhou mais 9 deputados. É quase o dobro do que tinha. Sem dúvida a terceira força política do país, papel que o Bloco almejava e nem ficou perto de conseguir. É a única força política (para além do PSD claro), que por si só permite uma maioria ao PS, graças ao Senhor.

BE - Grande resultado do BE nestas eleições também, colocando precisamente o dobro dos deputados na assembleia com 16. No entanto, falharam o que, segundo entendi pelas declarações dos seus lideres, era o grande objectivo do Bloco para estas eleições. A verdade é que não são a terceira força política e a verdade é que, juntos com o PS, não são suficientes para formar uma maioria. Honestamente, surpreendeu-me, contava sinceramente que isso fosse uma realidade e que a coligação estaria por horas, independentemente das belas palavras de Louçã, o homem que sonha tornar Portugal na Venezuela da Europa. "Águas de portugal? Nacionalizem-se".

CDU - Tem mais deputados? Tem. Teve uma maior percentagem de votos? Tem. Era a terceira força política do país até agora? Era. Passou a ser a quinta? Passou. Conta cada vez menos quando comparado com o Bloco? Conta.
_________________