segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol - Haruki Murakami

Como demorei três posts a fazer uma referência ao meu autor de eleição? Nem eu sei. É um mistério. É um pouco como porque escolhi escrever este blog em português e não em inglês. Não existe um motivo em particular, simplesmente nesse dia acordei assim disposto.

Na Universidade do Minho existe, para quem não sabe, um clube de literatura japonesa chamado Bungaku (que quer dizer literatura, claro), vou enviar este comentário para lá, pode ser que me aceitem! Cruzem os dedos.

Aproveito por último, antes de começar, para fazer referência a um site extraordinário, o The Book Depository, que está em www.bookdepository.co.uk, que, maravilhosamente, envia para todo o mundo os seus produtos sem quaisquer custos de envio. Maravilhoso não?

"A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol" é um romance invulgar para Haruki Murakami. É mais pequeno do que "Kafka à Beira-mar" ou do que "A Crónica do Pássaro de Corda" e é, devido a uma notável ausência de pormenores surrealistas, um livro muito acessível, comparado com os exemplos que dei. Mais fácil de digerir, mais fácil de interiorizar, talvez seja até mais fácil para leitor relacionar-se com as personagens.

Passado em Tóquio, na sua maioria, é um livro bonito. A maioria da obra de Murakami não é bonita. Nem agradável. É dura, é estranha, é bizarra, é surreal mas não é bonita.

Eu gostei particularmente deste livro por ser extremamente bonito. Mas por detrás da beleza e da acessibilidade deste livro esconde-se um manancial de verdades escondidas e de pequenas pérolas de sabedoria. A única diferença é que, ao passo que noutros livros de Murakami eles às vezes passam ao lado do leitor, devido à aparente loucura do que está a acontecer a cada virar de página, aqui elas estão à vista de todos, escondidos nas reacções das personagens e na fracturada psique de Hajime, uma personagem quebrada, dividida entre dois mundos, ou mais, tal como todos nós.

É fácil identificar-nos com uma personagem como o Hajime, que tem uma vida que aparentemente tem tudo, mas à qual falta algo. É mesmo muito fácil perdermo-nos no mundo dele.

Pousei as mãos no volante e fechei os olhos. Não tinha a sensação de estar dentro do meu próprio corpo; sentia o corpo como um recipiente transitório, temporariamente emprestado. Que seria de mim no dia de amanhã? Queria comprar um cavalo à minha filha o mais cedo possível, antes que muitas coisas desaparecessem, antes que o mundo se estilhaçasse.

É mesmo muito fácil entrarmos no mundo de alguém que aparentemente está bem, aparentemente tem tudo, e que se esforça muito para parecer bem, e para não dar a entender às pessoas que o rodeiam o que se passa na realidade, quando na realidade está assim. Acho que todos tivemos momentos assim na nossa vida. Mas acho que poucos os poderíamos pôr em palavras de forma que fizesse tanto sentido para nós como Murakami os põe aqui, sem nunca nos conhecer ou ter ouvido a nossa história.

Uma história lindíssima do melhor romancista da actualidade. Recomendo vivamente.

Há muitas maneiras de viver. Há muitas maneiras de morrer. Isso, porém, não tem qualquer importância. No fim, fica apenas o deserto. Só o deserto permanece verdadeiramente vivo.


5 comentários:

  1. Fiquei curiosa.
    A ver se consigo encontrar esse livro.

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  2. Gostei! Depois de ler o Norwegian Wood leio esse "livro bonito" e fofo.

    Fico contente que também gostes da parte menos "esquisita"/surrealista deste autor.

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  3. Eu gosto de todas as facetas dele.

    Se não gostasse da parte realista o Norwegian Wood não era um dos meus livros favoritos.

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  4. Odeio quando fazes comentários às coisas como "o melhor romancista da actualidade"...é um comentário tão futebolistico :S

    Li o After Dark, achei piada, mas nada de especial. Entretanto ofereci o kafka à beira mar à minha irmã nos anos. Quando voltar a portugal trago-o comigo..

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  5. Não é um comentário futebolístico.

    É a minha muito sincera opinião.

    O Kafka à beira-mar é dos melhores livros que já li. Lê com atenção, se leres na diagonal perdes tudo.

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