quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Online?

De entre as variadíssimas coisas que me incomodam, a destruição lentra, progressiva, mas certa da comunicação real e saudável entre as pessoas é uma das que, ultimamente, me anda a chamar mais a atenção.

Há uns anos atrás, quando começou toda a paranóia do MSN Messenger, eu fui um dos crentes que ficou completamente apaixonado e que passava horas sem fim, ao serão, a falar com pessoas sem fim, sobre temas sem fim. Isto incomodava a minha mãe. Incomodava-a porque, tendo crescido na metrópole que é a Trofa, quando era nova passava o seu tempo com os amigos não sentada numa cadeira, mas na rua a trepar às árvores e a jogar badminton com os vizinhos.

Até há bem pouco tempo isto nunca me incomodou a mim. Sempre achei que era um exagero, que falava com as pessoas normalmente na escola, no básquete, nas aulas de música, aos Sábados ao serão, etc. e que, se passava umas horas a mais no messenger a falar pela internet, isso devia apenas ser encarado como um acrescento e não como um substituto.

E no fundo, apesar de ter perdido o hábito de me ligar ao messenger, continuo a pensar assim, não considero que o que eu fazia fosse um substituto, mas sim um acrescento.

Hoje em dia, no entanto, acho que se está a tornar um substituto. Já ninguém me telefona para me convidar para jantar, quanto mais encontrar-se comigo. Eu recebo convites para eventos no facebook. Convites para eventos que vão acontecer em LONDRES. Eu combino com a minha namorada o jantar de S. Valentim, mas ao mesmo tempo existem restaurantes que me convidam a mim e a ela para o mesmo jantar, novamente pelo facebook.

Aconteceu algo de interessante na vida de alguém? "Tweeta-se". Algo de muito interessante? Actualiza-se o perfil do Facebook. Será que alguém se vai dar ao trabalho de, não sei, revelar uma fotografia, fazer um álbum, guardá-lo e mostrá-lo à família durante uma tarde de Domingo? Com conversa sobre os eventos fotografados no entrementes? Claro que não! Põe-se no Hi5\MySpace\Facebook\Orkut ou outro qualquer de que eu não tenha conhecimento e fazem-se comentários sarcásticos por baixo. É muito mais interessante.

Agora temos ainda o Buzz, a nova ideia brilhante da Google, depois do fracasso óbvio que foi o Google Wave. Uma forma de conseguir misturar na mesma coisa os blogs, o mail, uma espécie de twitter, o próprio twitter e mais uma miríade de aplicaçõezinhas profundamente inúteis.

Como é que as pessoas ainda se surpreendem que cada vez mais existe um sentimento de isolação generalizado no mundo? Como é que as pessoas se surpreendem que é nos países de maior desenvolvimento tecnológico que há maiores taxas de divórcio e suicídio? Como é que as pessoas se surpreendem que já nada neste planeta dura para sempre?

As redes sociais não são a causa, são um sintoma, as redes sociais representam a tendência preocupante que cresce na nossa sociedade de querer tudo mais rápido, mais fácil, estupidamente simples e à distância de um clique.

A nossa sociedade entende, ainda, que para ganhar dinheiro é preciso trabalhar. Pelo menos no seu geral entende. Eu vejo na mesma os alunos a trabalhar para as notas e vejo as pessoas a procurar empregos e a querer trabalhar para melhorar o seu nível de vida.

Mas é só!

A tendência de que eu me apercebo é que tudo o resto tem que ser folia, diversão, passatempo e tem que estar à distância de um clique. Ninguém trabalha nos seus casamentos, quanto mais nas suas relações.

É duro ver isto, eu não me identifico com isto.

Se alguém utilizar diariamente o Buzz, o Twitter, o Facebook, o Hi5, um Blog, o correio electrónico, o MySpace e mais qualquer outra das dezenas de hipóteses que há online, o que é que sobra para falar? E não me refiro a ir ao messenger falar. Para o contacto entre as pessoas, o que sobra?

Se toda a gente me "segue" nestas coisas todas, para quê dar-me ao trabalho de falar directamente?

Eu sei que isto pode parecer hipócrita vindo de uma pessoa de informática que, com um bocado de azar, ainda vai acabar a trabalhar neste género de idiotice, e ainda pode parecer mais hipócrita o facto de estar a escrever isto num blog e não falando directamente com cada uma das meia dúzia de pessoas que vão acabar por ler isto, mas a verdade é que isto não cabia tudo num tweet. Teve que ser assim.

Chego à conclusão que só os pais do Jeremy do Zits é que me compreendem.

9 comentários:

  1. Foi pena não teres conhecimento da tertúlia que o Núcleo de Estudantes de Educação realizaou na Fnac na semana passada onde tratamos este tema. Foi mesmo muito interessante a discussão que se gerou. Fica aqui o link: http://nedum.wordpress.com/2010/02/01/tecnologia-e-relacoes-humanas/

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  2. Não me avisas das coisas....

    Incompetência pah :p

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  3. Para além de achar que escreves mt bem (nada que tu nao saibas :p) concordo plenamente com o tema do teu ultimo post. Admito que a internet facilita muito a vida, que uso com frequência o email, que já utilizei muito mais o msn do que actualmente e que vejo todas estas ferramentas como proveitosas no entanto é um facto que muita gente se esquece de viver e quando digo viver falo da vida real... Depois descobre-se que, não raramente, muitas das pessoas maravilhosas da net são na verdade tudo menos isso na realidade... Enfim... Cada um é que sabe de si e nesse sentido eu defendo cada vez mais os contactos feitos pessoalmente até porque muito mais do que a importância de aproveitar um serão a ver fotos e a contar histórias (que eu adoro, diga-se de passagem!)é receber um beijo, um abraço, um carinho daqueles que nos fazem sentir bem durante vários dias... Sim porque por muitos smiles ou bonequinhos que me mandem via net nenhum chega aos calcanhares do bom calor humano...
    Tenho dito :)
    MFF

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  4. Se bem que isso é verdade não é só isso.

    A verdade é que as pessoas falam e reagem de maneira diferente se puderes vê-las e tê-las à tua frente.

    A linguagem corporal desempenha um papel muito importante nas relações entre as pessoas e ao eliminares esse factor estás a condicionar imenso as conversas que tens.

    O facto de poderes apagar o que escreveste e corrigir antes de carregar na tecla de enviar, o facto de as pessoas não te poderem ver os olhos enquanto falas, etc. altera completamente o teor da conversa e distorce a realidade.

    Mas é o futuro, é o mundo em que vivemos e a verdade é que tudo isto me entristece um pouco.

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  5. É a primeira vez que venho ao teu blog e decidi comentar porque acho que abordaste muito bem este tema.

    Acho que as redes sociais e os meios de comunicação instantânea como MSN e afins são uma arma muito poderosa que, como muitas outras coisas, podem ser extremamente benéficas se usadas de forma inteligente ou, caso contrário, desastrosas.

    Na minha experiência pessoal, o Facebook e o Google Talk (que são os dois sistemas que uso diariamente) são uma forma de eu ir mantendo o contacto, ainda que virtual, com algumas pessoas com quem não posso, por algum motivo, socializar frequentemente; quando reencontrar a pessoa, mesmo que meses depois, não perdemos assim tanta coisa da vida um do outro.

    Por outro lado, já tive chatices com pessoas que me são bem queridas precisamente por cair no erro de comunicar com elas através do teclado do computador. Como bem disseste, não há expressões faciais, não há percepção do que a pessoa quer transmitir com cada palavra que diz e isso pode trazer problemas.

    Resumindo, as relações virtuais podem ser benéficas como um complemento às verdadeiras relações, nunca o contrário.

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  6. Ainda no sábado conversei contigo sobre temas que se cruzam com o que abordaste neste post.

    1º Tu darias um bom sociólogo da inovação e tecnologia :P Há imensa bibliografia sobre este tema que possivelmente irias achar interessante. E digo isto de modo sério, há trabalhos relacionados com redes sociais muito interessantes e conhecendo-te sei que ias gostar de ler.

    2º Nós também conversamos um pouco sobre esse aspecto lúdico que hoje em dia tudo tem de ter para todos. É algo que não me faz confusão pois eu mesma já cresci nesse mundo colorido e onde tudo é feito com recurso ao lúdico. Mas não é por não me fazer confusão que concordo e não é por aí que deve ser o caminho, na minha opinião. Daí que, quanto a isso concordo inteiramente contigo.
    A nossa sociedade passou a ser ela mesma virtual e temos todos os seus agentes a operar como se de facto pertencessem à rede e estivessem presos nela.
    Eu falo e digo e faço... também estou presa nela, caso contrário não estaria às 2h30 da manhã a escrever um comentário num blog.
    Estou eu e está praticamente o mundo inteiro que tem acesso à grande rede. É a nova droga e o novo petróleo. É viciante e necessária.

    3º Tenho de discordar com a ideia que dás a entender quando falas das taxas de divórcio e das taxas de suicídio... Isso são aspectos que têm estado em mutação desde sempre. Tudo bem que referes (e muito bem) que as redes sociais não são uma causa. Referes (ainda melhor) que são um sintoma. No entanto, o descontentamento do mundo e toda esta nova maneira de nos relacionarmos é algo que não é de todo novo nem recente. Isto já tem vindo a desenvolver-se e mesmo antes desse desenvolvimento já havia taxas mais baixas ou mais altas... Actualmente é apenas mais um sintoma para essas alterações. É apenas mais um e não o considero significativo.

    Quanto a isso importam mais "sintomas" de ordem local e próprios de determinado povo, do que esta "doença" que é global e atinge tudo e todos.

    Mas lá está, a "doença" em si só se manifesta em quem deixar e quem sentir que, de modo ilusório, o que é virtual é melhor do que o que é real e até mais real do que é na realidade.

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  7. Obrigado Eduardo pelo comentário, acho que percebeste bem o que queria dizer, continua a aparecer por aqui ;)

    DanaOHara meu floquinho de neve, continua tu a ser socióloga e eu prefiro aprender contigo as conversas que versem sobre esses assuntos :D

    Bjinho *

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  8. Bem rapaz.... Como sabes discordo com a grande maioria das tuas opiniões, mas neste caso tenho-te a dizer que concordo contigo praticamente a 100% ,

    Apesar das nossas diferenças e opiniões divergentes achei o teu blog interessante e acho que vou começar a passar por cá

    Força com isso

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  9. Força, aprecio o feedback de toda a gente e, para ser honesto, prefiro pessoas que discordem de mim e apresentem ideias, fomentando o debate do que comentários a dizer "sim sim, tens toda a razão" sem acrescentar nada de novo.

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